Ao longo dos últimos anos, muito tem sido divulgado sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na infância. São vários os artigos e reportagens alertando o prejuízo que esse transtorno causa tanto no comportamento, como no rendimento escolar em crianças.
Parece estranho que ninguém se interesse muito pelo que acontece com essas pessoas depois que elas crescem e entram na vida adulta. Que tipo de dificuldades enfrentam os adultos com déficit de atenção? Como identificá-los e o que fazer para ajudá-los? Vamos tentar esclarecer essas questões, muitas vezes negligenciadas até mesmo pelos profissionais de saúde.
O déficit de atenção não é, ao contrário do que muito pensam, um diagnóstico moderno ou uma invenção da indústria farmacêutica. Foi identificado há muito mais de um século e durante muito tempo foi chamado de Disfunção Cerebral Mínima.
Ele é caracterizado principalmente por dificuldade em focar a atenção, hiperatividade e impulsividade. Nos adultos, esse transtorno assume características peculiares. A hiperatividade que apresentavam quando criança diminui bastante, assumindo mais a forma de uma inquietação subjetiva.
O traço mais marcante, nos adultos, além da desatenção e impulsividade, é a chamada disfunção executiva: Essas pessoas tem muita dificuldade em levar a cabo seus projetos,em executar suas tarefas até o fim, em estabelecer prioridades. Estão sempre adiando o início de trabalhos muito monótonos. São eternos enrolados.Nunca chegam no horário, têm muita dificuldade em se organizar. Sua casa ou escritório estão sempre bagunçados. Elas até que tentam se empenhar, mas ficam sempre com a imagem de que nunca cumprem seus compromissos. Além disso, elas tem a tendência ao devaneio crônico, isto é, a mente delas não pára nunca. Estão sempre envoltas em um turbilhão de pensamentos.
Os prejuízos podem sem imensos: desde vários acidentes de trânsito, dificuldade em se estabelecer profissionalmente, sem falar no enorme desgaste nos relacionamentos. Quem convive com quem tem TDAH, tende a achar que o parceiro ou a parceira não honra os compromissos e nunca cumpre o que promete por falta de consideração, desrespeito ou descaso.
É muito comum que portadores de TDAH desenvolvam depressão e ansiedade depois de tantos anos de incompreensão e desconhecimento de seu trantorno.
A boa notícia é que, mesmo no adulto, o TDAH tem tratamento:
- 1-Educar o paciente e a família sobre o transtorno é fundamental.
- 2-O tratamento psicológico deve ser sempre muito diretivo e focado nas dificuldades específicas.
- 3-Outros transtornos psiquiátricos podem estar associados e devem ser diagnosticados e tratados conjuntamente.
- 4-Os tratamento baseia-se principalmente em psicoestimulantes, que aumentam a neurotransmissão da dopamina, como o metilfenidato (nas formas tradicionais ou de liberação prolongada) e um estimulante de ação prolongada lançado muito recentemente chamado de lisdexanfetamina.
- 5- Outra opção são antidepressivos de ação dopaminérgica, como a bupropiona ou um com ação exclusivamente noradrenérgica, a atomoxetina, infelizmente não disponível no Brasil.
Em países desenvolvidos, como na Inglaterra, existem programas de couching especializados em ajudar portadores de TDAH. No Brasil, onde ainda prevalecem a falta de informação e o preconceito acerca desse tema, nunca é demais ressaltar que oTDAH existe, que pode ser bastante limitante, que ele é mundialmente reconhecido pela comunidade científica, é intensivamente pesquisado e que existe tratamento.
Dr. Fabio Martins Fonseca
Psiquiatra – CRM: 94694